8 de jul. de 2013

O surgimento da Umbanda


Por: Hipátia

Olá a todos,

Esta semana vamos falar um pouco sobre o surgimento no plano físico da religião Umbanda e começar uma sequência de posts de caracterização e de desmistificação dessa linda e mal-entendida religião brasileira. 


O marco físico de fundação da Umbanda se deu com a manifestação do senhor Caboclo das Sete Encruzilhadas no médium Zélio Fernandino de Moraes, em 15 de novembro de 1908. Hoje, este dia é homenageado e celebrado como o Dia da Umbanda. Esta manifestação ocorreu enquanto Zélio participava de uma sessão kardecista na Federação Espírita de Niterói. Na ocasião, os trabalhadores desta casa espírita tentaram afastar os guias que apareceram na sessão se dizendo pretos escravos e índios. Para entendermos melhor o porquê desta atitude, devemos lembrar que o Kardecismo teve origem no século XIX em meio a sociedade francesa, onde predominava a visão imperialista de que uma das funções dos conquistadores europeus era a de levar 'bons costumes dos brancos' aos ‘selvagens e atrasados’ índios e negros de suas colônias; infelizmente esta visão também estava presente entre os kardecistas brasileiros do início do século XX, que acreditavam que espíritos que em vidas anteriores tivessem sido índios ou negros eram menos evoluídos aos demais. Diante deste preconceito, o Caboclo das Sete Encruzilhadas decretou que a partir do dia seguinte (16 de novembro) estariam abertos os trabalhos de um novo culto na casa de seu aparelho (o médium Zélio), em que os irmãos espirituais excluídos poderiam dar suas mensagens e cumprir a missão confiada a eles pelo Plano Espiritual.


Zélio Fernandino de Moraes


No dia 16 de novembro, às 20 horas, manifestou-se o Caboclo das Sete Encruzilhadas em seu médium. Ele declarou que naquele momento se iniciava um novo Movimento Religioso, denominado de Umbanda, que iria receber qualquer guia espiritual que quisesse passar mensagens de luz, independente de sua origem. Os irmãos encarnados atendidos seriam de qualquer cor, raça, credo ou condição social e a prática da caridade seria a característica principal desta nova religião. O Caboclo também estabeleceu algumas normas: os períodos de trabalho espiritual seriam chamados de sessões, os participantes estariam uniformizados de branco e o atendimento seria gratuito (dica: atente a estas características sempre que você for conhecer uma Casa de Umbanda). Por fim, a casa de trabalhos fundada receberia o nome de Tenda Nossa Senhora da Piedade, fazendo alusão a Maria que acolheu seu filho em seus braços, assim sendo, aquela Tenda teria como missão acolher todos os filhos necessitados que ali fossem procurar ajuda.


Caboclo das Sete Encruzilhadas


Após este breve resumo da fundação da Umbanda, gostaria de explicar o porquê utilizei a expressão “marco físico de fundação da Umbanda”. Primeiramente, antes de uma manifestação espiritual aparecer no plano material, como o caso da fundação de uma nova Religião, ela tem necessariamente que ter sido organizada no plano espiritual. Vou dar um exemplo cotidiano para deixar mais claro: vamos imaginar que alguém resolva abrir uma empresa; antes desta pessoa literalmente abrir as portas deste novo negócio, ela deve passar por uma série de passos, como conseguir um CNPJ, comprar/alugar um local para abrir a empresa, contratar funcionários, etc. Seguindo a lei hermética “Aquilo que está em cima é como aquilo que está embaixo”, o mesmo princípio se dá para qualquer manifestação espiritual no plano material, ou seja, a Umbanda já existia no plano espiritual antes de sua fundação no físico. E segundo, antes do dia 15 de novembro de 1908, muitos mentores espirituais da Umbanda já se manifestavam em seus médiuns realizando trabalhos em diferentes localidades do Brasil. Portanto, o Caboclo das Sete Encruzilhadas não foi o único fundador da Umbanda no Brasil, mas sim apenas um dos espíritos a quem foi confiada a missão de desvincular as manifestações de Umbanda de outras correntes, como Candomblé e Espiritismo.



Por fim, termino este post dando uma rápida explicação sobre o simbolismo por trás do nome “Caboclo das Sete Encruzilhadas”. Na Umbanda, os guias que trabalham nas sessões se apresentam com nomes que não são os seus ‘nomes verdadeiros’. Por exemplo, uma pessoa que em sua última vida teve como nome de batismo “João Martins Gonçalves” não irá se apresentar numa sessão de Umbanda com este nome. Os nomes aos quais estes seres se apresentam fazem referência, muitas vezes, aos tipos de trabalhos que estes seres realizam. No caso do Caboclo das Sete Encruzilhadas, este nome faz alusão ao trabalho realizado por esta entidade que é o de abertura dos sentidos da vida.


Ótima semana a todos!



Referências:
- SARACENI, R. Doutrina e Teologia de Umbanda Sagrada: A religião dos mistério um hino de amor a vida. São Paulo: Madras, 2011.

- Umbanda: Magia Brasileira - O Princípio


Dicas de Podcast:
- Conversa entre Adeptus: Episódio 8 - Perguntas e Respostas sobre Umbanda

Um comentário:

  1. "Com os espíritos mais evoluídos aprenderemos!
    Aos espíritos menos evoluídos ensinaremos.
    E a nenhum espírito renegaremos!" (Caboclo das 7 encruzilhadas)

    Umbanda é para todos!

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