9 de ago. de 2013

A Pedra Preta: Capítulo 6- Adentrando a floresta

Por: Colorado Teus

Satisfação,

O livro continua, segue o link para quem perdeu o começo é sugerido ler isto antes: http://coloradoteus.blogspot.com.br/p/pedra-preta.html

Capítulo 6- Adentrando a floresta

 No dia seguinte, Colorado Teus acordou bem cedo e foi atrás de algumas coisas para sua viagem. Conseguiu um saco de dormir que seu pai mantinha guardado e inutilizado há algum tempo, pegou poucas roupas, um isqueiro, um canivete bem grande, uma pequena lanterna à pilhas, um saco plástico também grande e resistente, uma foto de sua família da época em que era bem pequeno ainda, algumas broas de fubá que sua mãe tinha feito há alguns dias, um cantil para colocar água, uma corda e colocou tudo isto em uma grande bolsa.




Passou o dia fazendo os últimos preparativos para a viagem e também tentando lembrar o mapa que deveria seguir; como o único bom horário para sair sem ser incomodado pela sua mãe era ao anoitecer, ficou um pouco preocupado e isto o atrapalhou a pensar em maiores detalhes sobre a viagem. A novela começou por volta das 17h30 da tarde, seu pai tinha acabado de chegar do trabalho e sua mãe estava sentada no sofá, com os olhos fixos na tv e a boca levemente aberta, parecia que a qualquer momento iria começar a babar. Ele chegou e falou para sua mãe:

- Mãe, estou saindo de viagem.
- Tá bom filho, depois você me fala sobre isso...a Cláudia está a ponto de pegar o marido dela que está a traindo e ela não sabia.
- Ok, beijos.

Sua mãe nem respondeu e continuou a assistir a novela. Ele foi até a porta do banheiro e gritou um tchau para seu pai, que foi respondido de maneira parecida com seu grito e nem perguntou para onde ele iria. Colorado Teus saiu da casa e quando deu conta de si, estava adentrando a floresta ao mesmo tempo em que o Sol se punha na direção praticamente oposta em que ele andava. Era uma floresta praticamente virgem, poucas pessoas eram vistas andando por perto dela; sobre ela haviam muitas histórias que ele ouvira da boca de seus amigos quando criança, nas épocas de sexta feira treze. O que importa é que não era tão difícil andar por dentro dela, que é o que ele fez.

O dia ainda estava bem claro quando ele avistou uma árvore muito grande, parecia ser muito antiga. Achou aquela árvore muito bonita e resolveu olhá-la mais de perto. Parecia um carvalho, árvore que ele conhecia pois uma vez ajudou um tio dele a fazer um barril para armazenar aguardente feito da madeira daquela árvore. Ao chegar bem perto viu que vários animais viviam naquela árvore, havia uma fileira de formigas que cruzava suas raízes e acabava em um buraco bem próximo. Viu pelo menos 3 ninhos de pássaros de onde estava; algumas borboletas e mariposas voavam ao redor do carvalho e esporadicamente pousavam nela, além de vários insetos diferentes que ele não sabia nomear. Mas o que mais lhe chamou a atenção, quando conseguiu ver, foi uma frase escrita que dizia:

"Eles falam sobre os dias pelos quais eles sentam e esperam
 em que tudo será revelado."

Dali ele viu outra frase à esquerda desta:

"Para sentar com anciões da raça gentil
 que este mundo já viu"

Mais à esquerda:

"Sou um viajante do espaço e tempo
 para estar onde eu estive"

E por fim, terminando um giro de 180º pela árvore:

"Deixe o Sol bater em meu rosto
 estrelas encherem meus sonhos..."

Ao ver isto, percebeu que o Sol estava terminando de se por e algumas estrelas já podiam ser vistas pelas frestas que existiam entre algumas árvores. Neste momento ele percebeu a grande coincidência da poesia com sua situação e sentiu algumas de suas preocupações irem embora de sua cabeça, estava no tempo e espaço perfeito e prosseguiu andando sem consciência de um rumo floresta a dentro. Ao ficar bem escuro e a única luz relevante ser sua lanterna, ficou confuso se continuava caminhando à noite ou parava para dormir, escolheu a última opção. Juntou um pouquinho de lenha que achou por perto e deixou preparado para caso precisasse de uma fogueira. Arrumou seu saco e deitou-se à beira de uma árvore, não demorou a dormir.

Durante o sonho, foi para o mesmo lugar da noite anterior, o qual passou a denominar como seu templo. Estava perto da mesma árvore que estava um dia antes, mas percebeu que era exatamente o carvalho que tinha visto há pouco na floresta, o que o assustou de certa forma. Egídia não demorou a aparecer, logo começou a falar:

- Olá meu filho, como está?
- Bem e a senhora?
- Estou ótima. Aliás, fez a escolha correta, não é muito bom ficar viajando durante a noite, é melhor esperar pelo dia.
- Pelo que a senhora falou, amanhã eu saio cedo e chego antes do almoço na aldeia, então preferia já dormir.
- É...não sei se será possível chegar já amanhã na aldeia.
- Como assim? Você não disse que eram umas duas horas de caminhada?
- Só disse isso porque se eu dissesse onde é de fato você nem sairia de casa.
- Você mentiu pra mim? Não posso acreditar.
- Não é que eu menti, eu só não falei que você teria que caminhar na velocidade de um carro muito rápido para chegar lá em 2 horas. Precisa prestar mais atenção aos detalhes filho.
- Hahahaha bem pensado. Não ficarei bravo com a senhora pela minha estupidez.
- Não se sinta estúpido, sinta-se feliz por aprender uma nova visão.
- Isso também faz bastante sentido. E aí, qual é o treinamento de hoje.
- De certa forma você já aprendeu, só vou tentar ajudar a deixar bem claro para você. O que mais te impressionou nesta viagem até agora?
- Com certeza foi aquele lindo e mágico carvalho que encontrei no caminho. Tudo lá parecia em harmonia, inclusive o céu em harmonia com o que estava escrito nele.
- É exatamente por aí que eu gostaria que você percebesse. Tudo neste mundo está conectado, exatamente tudo. Os deuses falam conosco o tempo todo, só precisamos ter olhos e ouvidos para ver e ouvir o que eles querem nos dizer. Qual a sensação que você teve ao ver as mensagens na árvore?
- Como você sabe que tinha mensagens?
- Isso não importa por enquanto filho, me diga o que você sentiu.
- Senti que estava no caminho certo, senti uma sensação de que estava em harmonia com a própria vida da floresta.
- E ela estava em harmonia consigo mesma provavelmente. Tente tirá-la de sua rotina para ver o que acontece. Um exemplo bem simples são as pessoas que construíram suas casa à beira de rios. Os rios são muito importantes para a vida de todos e as pessoas não respeitam isto, jogando seus dejetos e lixos nele. O que é o mais comum? Que a natureza ative seus sistemas de defesa e atrapalhe também a vida dessas pessoas com enchentes e mosquitos, por exemplo.
- Para toda ação existe uma reação.
- Exatamente, é assim que funciona. Não existe acaso. Este é um nome dado para acontecimentos cujas regras ainda não foram conhecidas. Para muitas pessoas as chuvas, e consequentemente as enchentes, não possuem regras nenhumas. Quando tem nuvem vindo na direção da cidade chove, quando chove forte causa enchente e ponto. Você faz ideia do que é necessário para causar uma chuva?
- Não muito bem, sei que da água às vezes sai uma fumaça, que meu pai disse que formam as nuvens.
- Por aí, você já sabe mais do que muita gente. Mas existem muito mais coisas por trás disso e eu vou falar sobre como isso acontece num outro dia, o que importa saber aqui hoje é que para chover precisa existir a água em algum lugar, a água precisa subir aos céus, se movimentar para algum lugar e cair. Se movimentar para outro lugar, no qual voltará a subir aos céus, e etc. Agora vamos a outro exemplo, a vida de uma árvore. O que é preciso para existir uma floresta?
- Bom, é preciso pegar algumas sementes, colocá-las dentro da terra. As sementes se transformarão em árvores que darão novas sementes. Aí você pega estas sementes e leva para outros lugares e novamente as planta. Repete o procedimento até chegar no tamanho da floresta desejada.
- Claro que existem mais coisas envolvidas, mas é por aí. E para construir uma cidade que ainda não existe?
- É preciso que algumas pessoas vão para algum lugar que não tenha uma cidade. Façam suas casas e criem novos filhos. Os filhos vão encontrando outras filhos ou primeiros moradores e criam novos filhos. Vão para novos lugares da cidade e conhecem outras pessoas e criam novos filhos.
- Deu pra perceber como os processos de criação são análogos? Assim como acontece na Terra acontece no céu, assim na terra como no céu. É isto que aquela linda oração quer dizer, os processos são análogos onde quer que você esteja. Se algo está fora do padrão, você só não está conseguindo enxergar com clareza suficiente onde está o padrão que se repete em tudo. O mais simples deste padrão começa com a ideia de expansão e concentração, o Yin e o Yang. Pense no caso da chuva. A água está "parada" em um lugar e começa a evaporar, ou seja, se expandir o lugar em que se encontra. Ela expande até chegar uma hora que o vapor começa a se concentrar e formar uma nuvem. A nuvem expande seu tamanho e expande sua posição, vai para outro lugar, concentra o vapor em água. A água expande sua posição até a Terra, se concentra em poças, que se expandem até um rio, onde se concentram e vão até o mar.
- Hmm, acho que estou entendendo. No caso da nova cidade é algo parecido. Algumas pessoas querem expandir seus domínios e vão para algum lugar. Neste lugar elas se concentram em famílias e depois expandem a família criando seus filhos. Os filhos de várias famílias vão se concentrar em escolas, conhecer novas pessoas e depois formar novas famílias. Concentra e expande, expande e concentra. Muito interessante.
- Perfeito meu filho! Isto acontece em tudo, até mesmo dentro do nosso próprio pensamento. É algo tão interessante que algumas pessoas podem olhar os reflexos de uma água e saber de coisas que irão acontecer no futuro; meu povo há muito tempo consegue entender boa parte de uma pessoa só de olhar para sua mão, ver como foram formadas as linhas desta. Assim vai, o que está em cima é como o que está embaixo, quando duas coisas comparadas estão em harmonia entre si é bem fácil perceber esta relação, não há interferências. Como você está cumprindo seu destino, os deuses o avisaram com o céu ao ler o que estava escrito na árvore, por isso sentiu-se tão bem.
- Agora muita coisa faz sentido...
- Fico feliz por você meu filho. Agora olhe para aquela floresta à nossa direita. Perceba que ela termina onde começa um deserto.
Ele olhou e viu exatamente o que ela disse. Dona Egídia continuou:
- Onde é deserto dificilmente existe vida, a vida e as florestas estão intimamente ligadas. É dos vegetais que surge o ar que respiramos, é deles que muitos se alimentam ou os alimentos das pessoas se alimentam. É deles que as pessoas deste mundo tiraram os conhecimentos básicos de remédios, alimentos e outras coisas para poderem sobreviver. A expansão das florestas pelos desertos foi essencial para a vida como a vemos hoje em nosso mundo. Por isto é muito comum encontrarmos a ideia de que os vegetais são a fonte primordial dos nossos conhecimentos e ambos, vegetal e conhecimento, essenciais às expansões da nossa vida. Agora é hora de você acordar, o dia já está nascendo e você tem muito o que caminhar, mas lembre-se do que aprendeu hoje, será muito útil na tomada de decisões sobre os caminhos que você deve escolher nesta floresta. O que está no mapa é como o que está no ambiente.
- Obrigado Dona Egídia, até a próxima noite.

Colorado Teus acordou e o Sol estava nascendo, olhou para o lado e viu uma borboleta azul pousada em seu ombro direito. Levantou, arrumou as coisas e continuou a caminhada.

Vai dar certo!

Nenhum comentário:

Postar um comentário