Por: Hipátia
Olá a todos,
No último post conversamos um pouco sobre o Orixá Exu Mirim e suas atuações no universo e no nosso dia a dia. Porém, o Orixá não é o único que recebe a denominação 'Exu Mirim' atualmente; esse nome também é dado a um grupo de seres - ou linha de trabalho - que habita o universo divino.
Nessa nova postagem, portanto, iremos discutir e conhecer as entidades Exus Mirins. Quem são eles? Quais suas características? Onde e como trabalham? Qual sua atuação em nossas vidas? Conversaremos um pouco sobre esses tópicos nos parágrafos que se seguem.
CARACTERÍSTICAS
Muito pouco se aborda sobre as entidades Exus Mirins; inclusive, algumas Casas/Terreiros não se utilizam conscientemente do trabalho dessa linha, ou seja, muitos locais não permitem que os médiuns incorporem esses seres, mas, assim como acontece com Exu e Pombagira, gostemos ou não deles, tenhamos preconceitos ou não contra eles, eles sempre estarão ao nosso lado cumprindo sua função no universo divino e em nossas vidas. Dessa forma, poucas são as poucas que conhecem algo sobre a entidade Exu Mirim; por outro lado, aqueles que sabem possuem conhecimentos vagos.
Os indivíduos que normalmente têm algum entendimento sobres esses seres o retiram de histórias populares. Tal compreensão, todavia, não deve ser descartada, porque muito da cultura popular apresenta conhecimentos expressos de forma simples e que facilitam o entendimento daqueles que não possuem a chave para adentrar a câmara da sabedoria universal. Portanto, proponho a análise das histórias populares.
O conhecimento popular nos apresenta as entidades Exus Mirins como 'Exus crianças', ou seja, uma linha de trabalho espiritual que possui características semelhantes aos Erês - também chamados de 'Crianças' ou 'Cosme e Damião'. Porém, diferentemente destes que trabalham nas chamadas linhas da direita, juntamente com Pretos-Velhos e Caboclos, os Exus Mirins, como o próprio nome sugere, trabalham nas linhas da esquerda, juntamente com Exus e Pombagiras.
As histórias populares nos apresentam dois atributos fundamentais para a compreensão dessas entidades. O primeiro é seu ambiente de atuação e trabalho: a esquerda. Os Exus Mirins são seres que, assim como todas as criaturas universais, foram gerados no seio do Grande Arquiteto Universal e, posteriormente, exteriorizados; o que os diferencia dos demais é que, após esta exteriorização, eles foram acolhidos pelo mistério do Orixá Exu Mirim. Esse acontecimento os transformou em seres com características peculiares que estão presentes em todos os indivíduos que foram/são acolhidos pelo Orixá Exu Mirim: eles são seres encantados da natureza que vivem e evoluem na sétima dimensão à esquerda da qual nós humanos habitamos. Portanto, as entidades Exus Mirins não são seres humano e, consequentemente, não adentram ao ciclo encarnatório ao qual nós humanos nos encontramos agora. Na verdade, os médiuns videntes que os enxergam os caracterizam como seres troncudos e de baixa estatura e que, ao longo de diversas incorporações em médiuns, vão adquirindo feições mais humanas.
Como são seres que foram acolhidos pelo mistério do Orixá Exu Mirim, as entidades Exus Mirins são os trabalhadores desse Orixá. Dessa forma, elas O ajudam a evoluir aqueles que apresentam intenções coerentes com a Lei e Justiça Divina e O auxiliam a paralisar e/ou regredir ao nada aqueles que fogem à Lei e Justiça Divina. Assim sendo, a entidade Exu Mirim é indispensável ao equilíbrio do universo divino.
O segundo atributo que as histórias populares nos apresentam sobre essas criaturas é sua semelhança com os Erês da direita, dessa forma, ambos apresentam o arquétipo de crianças, com a diferença de que um trabalha na esquerda, enquanto o outro atua na direita. Como o arquétipo infantil nos indica, os Exus Mirins, assim como sua contraparte da direita, são irrequietos e curiosos. Por fim, assim como os Erês possuem os Pretos-Velhos como tutores em seu trabalho na direita, os Exus Mirins dispõem dos Exus e das Pombagiras.
Estes dois atributos mais perceptíveis da entidade Exu Mirim influenciam os nomes pelos quais tais seres são representados na Umbanda. Eles apresentam denominações semelhantes às usadas pelos Exus, porém sempre no diminutivo. Assim, deparamo-nos com nomes como: Exu Mirim Foguinho, Exu Mirim Folhinha, Exu Mirim Ferrinho.
SOBRE O COMPORTAMENTO MAL-EDUCADO DOS EXUS MIRINS
Como disse acima, muitas Casas/Terreiros escolhem não trabalhar com as entidades Exus Mirins no atendimento aos consulentes e/ou durante as giras de desenvolvimento mediúnico. O motivo dado para a exclusão dessa linha de trabalho, alguns declaram, está no comportamento inapropriado de tais entidades. Muitas pessoas o descrevem como entidades mal-educadas e desbocadas, alguns chegando a compará-los com meninos delinquentes de rua.
Tal personalidade inapropriada não é, entretanto, típica das entidades Exus Mirins em sua dimensão. Então, por que, ao incorporarem em médiuns humanos, eles demonstram tais traços? Isso se deve a sua característica refletora natural, que também é encontrada em Exus e Pombagiras. De forma mais clara: esses seres refletem o inconsciente das pessoas e, consequentemente, as más intenções dos médiuns incorporantes são exteriorizadas.
Os Exus Mirins, portanto, são importantes seres no trabalho, não apenas no universo divino, mas também no nosso interior, nos ajudando a nos conhecer melhor e enfrentar nossos defeitos, o que nos permite, se tal momento for tomado como algo positivo, evoluir. Portanto, lembrem-se: se um dia vocês verem uma entidade Exu Mirim ou ouvirem falar de uma com mau comportamento, não culpem esses seres, assim como não culpem seus médiuns - já que todos nós possuímos falhas e estamos aqui para aprender e evoluir-, mas sim os agradeçam pelo seu estimável trabalho em nos ajudar a nos desenvolver nessa dimensão.
Saravá, Exu Mirim
Exu Mirim, Emojubá
Até a próxima jornada.
Referência:
SARACENI, R. Orixá Exu Mirim: Fundamentação do mistério na Umbanda. São Paulo: Madras, 2011.
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