Olá a todos,
Quando dizemos nomes como 'Exu' ou 'Pombagira' a terceiros, logo tais pessoas já o associam a alguma história que já tenham ouvido ou a algum conhecimento. Obviamente nem todos possuem conceitos positivos sobre esses seres, seja por pouco estudo ou má informação; mas a questão é: Exu e Pombagira já fazem parte de nossas vidas, seja apenas como conhecimento popular ou pelo fato de você ser crente a eles. Porém, o mesmo não podemos dizer de Exu Mirim.
Quantas pessoas já leram ou ouviram falar sobre Exu Mirim? Você já ouviu alguém comentando algo sobre eles (mesmo que for uma piada de mau gosto)? Se você já frequentou ou é ativo em alguma religião espiritual, como Candomblé e Umbanda, você já teve contato com eles nesses locais? Normalmente as respostas para essas perguntas são "não, nunca ouvi falar" ou "ouvi falar, mas no local que frequento não trabalhamos com eles".
Constatações como essas, fazem-nos perceber que muito pouco sobre eles é discutido e, inclusive, poucas coisas são escritas sobre seus mistérios. Então, quem ou o que é Exu Mirim? É um Orixá? São entidades espirituais? São Exus crianças? Nos próximos parágrafos, pretendo discutir um pouco sobre eles, trazendo um pouco dos conhecimentos que obtive, principalmente provindos da chamada Umbanda Sagrada.
ATUAÇÃO
Para a Umbanda Sagrada, Exu Mirim é um Orixá que ainda não teve seu nome verdadeiro revelado aos encarnados. Ele é considerado como o regente do 'Nada' e seu campo de atuação se encontra à esquerda do plano vibratório ao qual estamos.
Exu Mirim, como regente do 'Nada' - também conhecido como inexistência -, situa-se em oposição ao Orixá Oxalá, regente do 'Tudo' - ou espaço infinito -, no sentido de que eles se encontram em extremos vibratórios opostos (e não no aspecto de que são inimigos ou que um seja 'bom' e o outro seja 'ruim'). Com tal característica, Exu Mirim é capaz de fazer tudo e todos regredirem ao estado de nada, ou seja, à inoperância total, incluindo seres e outros mistérios universais. Em contrapartida, Oxalá pode conceber tudo. Dessa forma, os domínios que ambos regem não se tocam, pois, se assim o fizessem, ambos se anulariam; todavia, como estão em lados opostos, o espaço existente entre eles é habitado por todos os outros domínios. Assim sendo, tal formação gera um espécie de escala divina, em que cada mistério atua como sustentador da criação e estimulador da evolução em todas as infinitas dimensões.
Além de ser regente do Nada, o Orixá Exu Mirim também irradia de si diversas energias, chamadas de fatores, que atuam em todos os meios e seres existentes. Entre os fatores irradiados pelo Orixá Exu Mirim e que chegaram ao nosso conhecimento, podemos citar: o fator intencionador, regredidor, esburacador, retrocededor, complicador, atrasador, encolhedor, idiotizador, entre outros. A atuação desse Orixá juntamente com os outros (saibamos ou não de sua existência) é imprescindível para manter o equilíbrio universal.
Entre os fatores mais discutidos está o fator intencionador que alimenta todas as intenções. Como o Orixá Exu Mirim gera e irradia esse elemento para toda a criação, ele possui a habilidade de refletir em sua tela vibratória mental todas as intenções produzidas pelos seres, sendo, portanto, capaz de captar e conhecer todas elas. A partir de sua onisciência nesse campo de atuação, o Orixá Exu Mirim consegue saber se as intenções geradas por cada indivíduo estão de acordo com a Lei e Justiça Divina ou se são contrárias a essas; no primeiro caso, ele as estimula, enquanto que no segundo exemplo, ele as paralisa e regride. Portanto, em resumo, Exu Mirim é neutro em sua polaridade essencial e seu mistério é ativado automaticamente pelas intenções antes que se concretizem, ora as estimulando, ora as paralisando.
Pelo fato do Orixá Exu Mirim ter acesso a todas as intenções, ele é capaz de 'julgar' os seres pelos motivos ocultos que os levaram a praticar determinado comportamento e não pela ação em si. Nos casos em que as intenções são desequilibradas, ele atua equilibrando os indivíduos e/ou os meios ou fazendo com que regridam ao nada. Essa atuação se inicia primeiramente de 'dentro para fora', isto é, no íntimo dos seres, mas, quando a pessoa não reconhece seus erros, então o Orixá Exu Mirim começa a atuar de 'fora para dentro', ou seja, ele começa a regressão do ser no sentido em que ele se desequilibrou.
A atuação do Orixá Exu Mirim fica de mais fácil compreensão com exemplos. Imaginemos uma pessoa que utilize do seu intelecto para prejudicar outros seres, por exemplo, alguém que possua um cargo público e aproveite sua posição privilegiada e seus conhecimentos para desviar dinheiro. Suas intenções são refletidas na tela mental do Orixá Exu Mirim que, portanto, sabe de todas as intenções desequilibradas desse sujeito. Em primeiro lugar, ele atuará transmitindo fatores que façam com que o indivíduo reconheça o erro; se o ato continuar, Exu Mirim, então, transmitirá fatores, como o regredidor e o idiotizador, que irão regredir os sentidos que o sujeito utiliza para causar os danos aos outros. Se tal pessoa continuar com seus desequilíbrios e, consequentemente, continuar recebendo esses fatores, ele pode atingir um alto patamar de regressão.
Tal exemplo nos faz refletir sobre nossas ações e intenções. Eu lhes pergunto: quantas não foram as vezes em que praticamos determinados comportamentos com intenções dúbias? Quem nunca disse "como você está ótimo!", mas internamente estava pensado maledicências contra fulano? Quem nunca praticou um comportamento, visto como um altruísmo ao próximo, com a intenção, na verdade, de se exibir e se gabar perante à sociedade? Quem nunca disse "estou feliz pela sua vitória", quando, de fato, estava morrendo de inveja e gostaria de estar no lugar daquela pessoa? Quem nunca cobiçou a mulher ou o homem do próximo? Se pararmos para pensar, a lista de ações contrárias a nossa real intenção pode ser gigantesca! Então, amigos, acho que o melhor conselho para situações como essas é: "Olhai e vigiai". Entretanto, engana-se quem acredita que essa frase deva ser aplicada a espionar e apontar os erros alheios, pelo contrário, devemos olhar e vigiar nossas ações, nossos sentimentos e nossos pensamentos, porque, até podemos enganar quem está ao nosso redor ou mesmo nos enganar, mas nunca enganaremos o Orixá Exu Mirim; ele conhece todas as intenções dos seres e meios do universo e está pronto para estimular aquilo que está dentro da Lei e Justiça Divina e paralisar o que está fora.
FORMAÇÃO DO UNIVERSO
Percebemos que nossas ações são precedidas por algumas etapas antes de ganharem vida. Primeiro, elas são planejadas, ou seja, ganham vida nos nossos corpos sutis antes de serem materializadas. Nessa etapa, nós intencionamos sua criação, damos vitalidade a elas e a desejamos. Portanto, é possível enxergar a atuação, entre outros orixás, do Orixá Exu Mirim gerando seu fator intencionador.
A partir da máxima "o que está em cima é igual ao que está embaixo e o que esta embaixo é igual ao que está em cima", conseguimos visualizar tal processo na criação de outros elementos universais, incluindo o Universo em si. Assim, antes da materialização do Universo, houve a intenção de criá-lo e, nesse instante, o Orixá Exu Mirim foi exteriorizado e gerado pelo Criador. Nesse momento, o Nada (ou inexistência) foi criado, pois antes de que algo possa existir é preciso que nada exista. Foi então que o domínio do Orixá Exu Mirim surgiu e é atualmente considerado por muitos como o primeiro a ser gerado.
Em resumo, hoje conversamos sobre a atuação do Orixá Exu Mirim no nosso dia a dia, assim como sua geração e atuação na criação divina. Mas essa postagem pode trazer questões como: o termo 'Exu Mirim' é utilizado apenas para o Orixá? Existem outros seres que recebem essa denominação? Além disso, comentários como "na Casa/Terreiro que frequento, os médiuns incorporam entidades Exus Mirins" podem surgir. Portanto, termino levantando o questionamento: quem são as entidades Exus Mirins e como se relacionam com o Orixá Exu Mirim? Cenas no próximo capítulo...
Até a próxima jornada.
Referência:
SARACENI, R. Orixá Exu Mirim: Fundamentação do mistério na Umbanda. São Paulo: Madras, 2011.
Dicas de leitura:
- Exu Mirim
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