6 de fev. de 2013

Uma ferramenta para a busca interior


Por: Zé Lucas Nora

A felicidade não é o caminho, nem o objetivo. Calma, não é pessimismo da minha parte. Só quero dizer que felicidade e tristeza não são escolhas. Elas simplesmente manifestam-se nas pessoas. Você pode atingir uma consciência ou sabedoria que permita viver mais plenamente, com serenidade e mais próximo do seu verdadeiro ser, mas não pode mudar a natureza das coisas.

E o caminho para o autoconhecimento é longo e difícil. Talvez por isso a maioria dos homens se deixam levar pelas emoções. É difícil perceber sem realmente prestar atenção. Até os ditos prudentes, racionais e inteligentes adotam automaticamente uma postura similar com a situação que se encontram. Por exemplo, imagine você em um debate vigoroso de idéias com uma pessoa qualquer, e em um determinado momento ela diz alguma coisa forte, agressiva, talvez até ofensiva. Qual seria sua reação?



Seria capaz de apostar que muitos diriam de peito estufado e sem pensar duas vezes: "Eu não levo desaforo pra casa". Sem perceber essa pessoa já entrou em um estado mental, emocional e espiritual que não escolheu. Ela está lá devido a uma atitude e energia exterior. E é assim que muitos se tornam escravos do próprio temperamento. Não me entenda errado, ser afetado pelo que acontece ao nosso redor é inevitável. Mas o autoconhecimento vai te deixar "escolher" (por falta de palavra melhor) o quão longe esse efeito vai te levar.

E é aí que entra uma virtude que prezo muito e tento aperfeiçoar sempre, pois é aquela que pode ser usada em qualquer situação e é ferramenta indispensável no caminho do entendimento e na busca constante de sabedoria. A PACIÊNCIA.

É a paciência que vai manter você na direção de suas ações. Que não vai deixá-lo a mercê dos caprichos alheios. Que vai fazê-lo deixar de ver a beleza nas coisas para poder admirá-las. Que vai te trazer paz e tranquilidade, mesmo nos momentos tristes.

Eu poderia divagar horas sobre seus benefícios, mas o que é importante dizer sobre ela é que exige exercício e vigilância constante. É uma virtude tão grande, pois é difícil obtê-la e conservá-la. Existe um ditado persa que traduz bem essa ideia: "A paciência é árvore de raiz amarga, mas de frutos muito doces". Ela também não é o caminho, nem o objetivo, mas ao contrário da felicidade, pode ser adquirida. E como poderosa ferramenta que é, deve ser um dos primeiros itens de preocupação de quem realmente quer mergulhar no próprio ser.

Dois princípios do Caibalion que me ajudam a olhar para o mundo com olhos mais serenos e me lembram constantemente dessa virtude são:

o Princípio de Polaridade: "Tudo é Duplo; tudo tem Polos; tudo tem seu Oposto; o Igual e o Desigual são a mesma coisa; os Opostos são idênticos em Natureza, mas diferentes em Graus; extremos se tocam; todas as verdades são meias-verdades; todos os Paradoxos podem ser reconciliados"

o Princípio de Ritmo: "Tudo tem fluxo e refluxo, tudo tem suas marés; tudo sobe e desce, tudo se manifesta por oscilações compensadas; a medida do movimento à direita é a medida do movimento à esquerda, o ritmo é a compensação."

Vou encerrar esse meu primeiro post por aqui, pois aprofundar agora seria um caminho sem volta e prefiro voltar ao tema com outra abordagem. Mas antes de acabar, gostaria de deixar uma parte do monólogo final do filme Beleza Americana bastante interessante (que eu vou deixar para os leitores associarem com o texto).

"Acho que poderia estar bem furioso com o que aconteceu comigo. Mas é difícil ficar zangado quando há tanta beleza no mundo. Às vezes eu sinto como se estivesse vendo tudo de uma vez, e é demais, meu coração se enche como um balão que está a ponto de explodir. E aí eu me lembro de relaxar, de parar de me prender, e aí tudo isso passa por mim como chuva e eu não posso sentir nada além de gratidão por cada momento da minha pequena vida estúpida... Você não faz ideia do que estou falando, eu sei. Mas não se preocupe... Você fará um dia.”

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