A Ninguém Renegaremos! (Parte 3)

Por: Colorado Teus

Satisfação,

hoje continuo a série de textos, sobre a Umbanda, que começou com sua relação com A sociedade brasileira e como foi a Divisão em aspectos do criador. Vou continuar falando sobre como a Umbanda organiza as energias dos outros planos, mas primeiro vou falar um pouco mais sobre como seus ensinamento são passados.

Relembrando as frases que deram início à formação desta religião:

- "Umbanda é a manifestação do espírito para a prática da Caridade."
- "Aprender com quem sabe mais e ensinar a quem sabe menos, a ninguém dar as costas."

Bom, como eu disse no primeiro texto da série, os espíritos se organizam em formas que lembram imagens arquetípicas chamadas de linhas ou falanges, que foram baseadas na estrutura social brasileira do século XIX. Desta forma eles podem trazer ensinamentos específicos e bem organizados para as pessoas, porém, que tipo de ensinamentos são esses? Que tipo de pessoa a religião de Umbanda tenta formar?

Para tentar responder estas perguntas, vou utilizar da comparação com outras religiões, tentando mostrar quais são as vias tradicionais de ensino religioso, para então todos terem uma base de comparação. Aqui convém frisar um ponto muito importante: sempre que vamos comparar religiões (ou como alguns chamam: 'mitologia comparada'), precisamos ter RESPEITO pelos ensinamentos de cada uma.

Então vamos às vias¹:

• Caminho da Mão Direita, o caminho da Misericórdia e Caridade, o caminho do Pai:
• Neste caminho as pessoas conhecem a infinitude do poder do nosso criador, aqui o adepto desenvolve prioritariamente sua Fé. Experimentam o poder de um grupo e da união para conseguirem se desenvolver em conjunto, cada um amparando seu irmão. Claro que sem o desenvolvimento da Fé, não nos deixamos ser guiados por ninguém que não acreditamos ou toleramos, assim, fica muito difícil ter um grupo agindo em harmonia. Aqui as pessoas são treinadas a 'se deixarem guiar pelos outros'.
• É chamado de Caminho do Pai em alusão à função do pai na idade média, que era o provedor das famílias, aquele quem colocava a comida na mesa.¹
• Caminho da Mão Esquerda, o caminho do Rigor e da Severidade, o caminho da Mãe.
• Neste caminho as pessoas conhecem a infinitude do poder que o criador deu a cada um, aqui o adepto desenvolve prioritariamente sua Razão. Experimentam a capacidade de discernimento (geralmente aprendendo a utilizar algum sistema simbólico) do ser humano para organizar o mundo em que vive, trazendo ordem, perfeição e o entendimento das Leis. Com o desenvolvimento da Razão, podemos olhar pra dentro de nós mesmos para nos conhecermos melhor e, então, exercermos nossa função neste mundo ou até ajudamos os outros a encontrarem seus caminhos, o que traz uma necessidade muito grande de Auto-confiança. Aqui as pessoas são treinadas a 'guiar a si próprio e os outros'.
• É chamado de Caminho da Mãe em alusão à função da mãe na idade média, que era a quem educava os filhos, impondo limites e ensinando-os a caminhar com as próprias pernas².
• Caminho do Meio, o caminho do Equilíbrio, o caminho da união do Pai com a Mãe.
• Neste caminho a pessoa tem o desenvolvimento tanto da Fé quanto da Razão, não que nos outros não ocorresse o desenvolvimento de ambos, mas havia um foco maior em um dos dois. Aqui as pessoas são treinadas a 'serem guiadas por uns, ao mesmo tempo que guiam outros', ou, em outras palavras, são treinadas a conduzirem pelo exemplo que são.

Tendo por base esta explicação, podemos classificar a Umbanda como uma religião de Caminho do Meio, porém, isto varia de terreiro para terreiro, pois alguns terreiros prezam mais por algum dos caminhos. Mas esta é a grande maravilha da Umbanda, não virar as costas para ninguém, ajudar cada pessoa a encontrar seu próprio caminho e exercer suas funções de acordo com o objetivo para que cada um foi criado. Para entender melhor estes caminhos de uma maneira prática, vamos tomar um Exército como exemplo:

Imagem do jogo Medieval II

Num exército tem-se várias hierarquias, assim como diferentes falanges. É preciso que alguém ou algum grupo, geralmente chamados de generais, organize tudo isso e dê os principais comandos estratégicos. Estes generais representariam aqui as pessoas treinadas pelo Caminho da Mão Esquerda.

Temos também os soldados, que recebem as ordens e vão para a batalha, formando o corpo principal do exército, aqueles que fazem acontecer pela união e grupo. Estes soldados representariam aqui as pessoas treinadas pelo Caminho da Mão Direita.

Por fim, temos também os Generais que recebem ordem dos outros generais, os Soldados que são líderes dentro das falanges e os comandantes e porta-bandeiras que fazem a mediação entre os outros dois grandes grupos, ou seja, os comandantes táticos. Todos estes representariam as pessoas treinadas pelo Caminho do Meio.

Notem que TODOS são importantes, não há exército sem organização, não há exército sem confiança no irmão ao lado, não há exército sem mediação e equilíbrio. Aquele que acha que um caminho é mais ou menos importante que o outro, desrespeitando, está certamente desequilibrado ou não têm discernimento. Mas claro que críticas construtivas são sempre importantes para o desenvolvimento de cada pessoa, saber ouvir é algo importante para conseguir o equilíbrio.

Voltando à querida Umbanda, não podemos confundir os Caminhos Evolutivos com as linhas de Esquerda e Direita, pois, apesar de algumas semelhanças, não são a mesma coisa.

É neste ponto que entra a parte que a Umbanda diverge do Catolicismo e Espiritismo (que são religiões do Caminho da Mão Direita), pois, para se firmar como uma religião de Caminho do Meio, incorporou a base simbólica e alguns ensinamentos do Candomblé, que é uma religião de Caminho da Mão Esquerda. Um gráfico bem interessante em relação a estas classificações pode ser encontrado aqui: http://www.deldebbio.com.br/2013/01/18/pequeno-grafico-de-ordens-iniciaticas/ . Este gráfico foi feito por Marcelo Del Debbio à partir de sua visão em relação às religiões e ordens classificadas por ele (isso inclui a parte 'evolução' e 'aprisionamento').

O que pode ser encontrado do Candomblé dentro da Umbanda é uma boa parte de sua base simbólica, que é identificado na linguagem, nos Orixás e alguns rituais.

Falar da linguagem e dos rituais é algo difícil, pois a linguagem é muito extensa e os rituais são feitos para serem sentidos, então o ideal é que cada um visite uma casa para poder entender o que estou dizendo, porém, para quem quiser ter uma noção, existe um dicionário de Umbanda que pode ser encontrado neste link: http://www.daemon.com.br/wiki/index.php?title=Dicion%C3%A1rio_de_Umbanda

Como este texto está ficando extenso por demais, deixarei para falar dos Orixás no próximo texto, porém, vou deixar um pequeno gráfico que organizei (ou seja, vocês vão encontrar divergências por aí) em relação aos Orixás e a forma como tudo é equilbrado:

Orixás no ponto de vista da Umbanda Sagrada

Entendedores entenderão esta organização, quem não entendeu, espere pelo próximo texto para saber mais sobre os Orixás ou pesquise, existem muitos sites fantásticos que falam sobre os Orixás, como este do Jorge Scritori: http://www.seteporteiras.org.br/index.php/

Dúvidas e sugestões, só comentar aqui embaixo.

Vai dar certo!

¹ - Por favor, não vamos colocar discussões sobre Machismo e Feminismo em pauta, todos sabemos que é um símbolo que foi baseado numa sociedade machista.

² - Um exemplo fantástico de experiência no caminho da Mão Esquerda que acontece no dia-a-dia.

Referências:

- Curso de Teologia de Umbanda, Nucleo de Culto Umbandista do Butantã
- www.deldebbio.com
- wiki daemon
- www.seteporteiras.org.br
- Fundamentos de Umbanda


¹ - Originalmente os termos 'Caminho da Mão Direita', 'Caminho da Mão Esquerda' e 'Caminho do Meio' vêm do Tantra Yoga. Dentro do Tantra existe a diferença entre as escolhas de parceiros para as práticas, sendo o Caminho da Mão Direita o caminho em que se tem apenas um parceiro e fixo, o Caminho da Mão Esquerda é possível a flexibilidade dos parceiros e o Caminho do Meio a pessoa tem um parceiro fixo e pode chamar outras pessoas para a prática. Isso obviamente dá uma diferença de manipulação energética tremendamente grande, que depois foi comparada pelos Kabbalistas com o caminho do uso da Razão para a iluminação e o caminho do uso da Tolerância para a iluminação.