15 de jul. de 2014

7 Linhas de Umbanda! (Parte 2)

Por: Colorado Teus

Satisfação,

comecei uma série de textos sobre a Umbanda com o intuito de explicar um pouco dos fundamentos da religião e sistema de magia, mostrando  que os umbandistas não são um povo de pura imaginação fértil, com o objetivo de criar mitos para manipular as criancinhas, ou que ficam sujando as praças com comida jogada fora e cachaça. Comecei falando da ligação da Umbanda com a estrutura social brasileira (texto indispensável para a leitura deste), agora vou falar mais dos 'concentrados energéticos' ou, como muitos umbandistas chama, do 'Axé'.

Para entender como tudo isso funciona, primeiro temos que entender a Cosmogênese Umbandista, ou seja, a visão da Umbanda de como surgiu o Cosmos, assim entenderemos também como podemos criar qualquer coisa, deuses que somos (Olorum criou o Macrocosmo, enquanto todo ato mágico é a criação de um Microcosmo).


No início tudo era Olorum, uma forma de energia completa em si mesma que não precisava de mais nada para existir. Para se expandir, Olorum criou uma base que começou pela criação do Vazio Absoluto (ou o "Nada"), lugar onde, como o próprio nome diz, não existe Nada, apenas a Intenção de criar; os umbandistas chamam isto de Exu-Mirim.

Depois de exteriorizar sua intenção de criar algo, Olorum criou o Vazio Relativo, um lugar capaz de receber toda a criação que ele desejava fazer; os umbandistas chamam isto de Exu. Criou também 'tubos' de conexão, abismos, entre estes diferentes planos, estes tubos são chamados de Pomba-Gira.

Então, Olorum começou a exteriorizar seus fatores (energias mais puras possíveis) para preencher o espaço vazio, o Tudo, ou como os umbandistas chamam: Oxalá. Deste preenchimento surgiu todo o Cosmos que conhecemos.

Forma de representação oriental para o mesmo fundamento da cosmogênese umbandista, sendo o grande preto (Yin, o vaso) Exu, o grande Branco (Yang, a lança) Oxalá, o pequeno branco é a parte sólida do vaso, o pequeno preto o vazio que existe dentro de tudo, a linha que conecta as diferentes cores Pomba-Gira e o que está fora Exu-Mirim.
É daí que vem a ideia de que antes de começar qualquer trabalho bate-se pra Exu ou pra Esquerda (ou seja, primeiro cria-se o vaso que vai receber as energias do trabalho, também chamado de 'abrir o espaço mágico').

É nesta parte que entra a explicação de mais uma parte do nome do fundador da Umbanda, o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Mas apesar de eu já ter falado o que significa o nome 'Caboclo' e que agora falarei da parte 'Sete Encruzilhadas', ainda terei mais coisas para falar sobre ambos nomes nos textos seguintes desta série.


Reflexão e refração de um feixe de luz branca num Prisma cristalino

A emanação pura (os fatores) que sai de Olorum passa pelo trono das Sete Encruzilhadas e se divide em aspectos complementares entre si, ao passo que uma parte transpassa sem alterações. É como bombardear um prima cristalino com um feixe de luz branca, que se divide em todas as cores possíveis e também reflete um pouco que mantém a cor original.

Os pontos de saída destas energias são chamados de Tronos pela Umbanda. Poder-se-ia classificar infinitos tronos diferentes (um para cada Fator) ou apenas 1, 2, 3, etc., agrupando fatores diferentes com características em comum em cada trono.

Neste ponto entra aquele paradoxo de precisão/prática, pois não adianta termos uma classificação precisa de infinitos tronos e não conseguir usar isso para nada na prática. Normalmente se utiliza os padrões 3, 7 ou 12 para a classificação nos sistemas mágicos, os umbandistas optaram pelo número 7 como padrão principal, sendo assim, temos os 7 Tronos de Deus, 7 linhas da Umbanda e quase todo o sistema ritualístico baseado no número 7. Os Tronos foram classificados da seguinte forma:

- Trono da Fé, ou dos fatores ligados à Fé.
- Trono do Amor, ou dos fatores ligados à Agregação.
- Trono do Conhecimento, ou dos fatores ligados ao Conhecimento.
- Trono da Lei, ou dos fatores ligados à Lei.
- Trono da Justiça, ou dos fatores ligados à Justiça.
- Trono da Geração, ou dos fatores ligados à Geração.
- Trono da Evolução, ou dos fatores ligados à Evolução.

Dos tronos, como foi dito, saem os fatores, estes fatores vão se combinando e formando novas formas de energia, ditas 'mais densas'. Assim, vão se formando diferentes planos, de acordo com a combinação e a mistura destas energias, até que o plano em que vivemos é formado, chamado Plano Natural da criação. Em ordem de densidade e complexidade, a Umbanda identifica estes planos para seus trabalhos:


- Plano Fatoral.
- Plano Essencial.
- Plano Elemental.
- Plano Dual.
- Plano Encantado.
- Plano Natural.
- Plano Celestial.


O que podemos tirar de conhecimentos práticos disso? Na verdade, todo o sistema de magia umbandista se baseia nisto, pois parte do princípio de que 'tudo vem de Olorum possui sua contraparte nos outros planos e é formado por fatores combinados', ou seja, tudo é divino. Assim, é possível acessar a contraparte nos outros planos (alguns chamam de contraparte etérica) de qualquer objeto, para se ter um concentrado energético (Axé).

Eis a fórmula para magia na Umbanda (criação de um Microcosmo):


  • Criação do Espaço Mágico:
    • Primeiro a Intenção (Exu-Mirim)
    • Segundo a criação do receptáculo (Exu)
    • Terceiro a conexão entre os planos (Pomba-Gira)
  • Manipulação Energética (Oxalá)
    • Arranjo dos concentrados energéticos
    • Acesso à parte etérica, criação do Axé
    • Endereçamento do Axé
    • Execução dos fatores
    • Retorno karmico ao Mago

Aqui cabe falar sobre as duas Leis mais importantes da Umbanda:




Algo importante de se tomar nota neste momento é que o Axé não se movimenta sozinho, sendo necessário aprender a movimentá-lo mentalmente ou, como é feito normalmente, pedir para que um ser desencarnado movimente para você. Não é fácil movimentar um axé mentalmente, pois a concentração energética é muito grande, e não pense que um espírito irá movimentar para você só porque você pediu, existe todo um processo de autorização e trocas para isso. Um espírito que trabalha pela Umbanda nunca fará isso por você se for infringir o livre-arbítrio de outras pessoas (ou seja, não passa da primeira fase, da intenção). Existem cursos de Magia Divina em muitos núcleos de Umbanda que ensinam quais são boas ocasiões para que a magia possa ser acessada, ao passo que também ensinam cada um a ter mais proximidade com seus guias, ou mestres de magia, para que eles possam auxiliar na movimentação do Axé. Você pode encontrar tudo que precisa sobre este tipo de magia no site do Colégio de Magia.

Este texto está ficando extenso por demais, então, para finalizar, vou falar da ligação dos elementos com os tronos e citar alguns dos fatores que são facilmente encontrados em cada elemento, deixando para falar sobre os Orixás na segunda parte deste texto.

Os elementos básicos de formação do nosso planeta são Fogo (Magma), Água (Oceanos), Ar (Atmosfera) e Terra (Crosta), porém, com o tempo e os processos físico-químicos, formaram-se mais 3 elementos importantes, resultados da combinação dos 4 primordiais, que são eles: Vegetal, Cristal e Mineral. Sendo assim chegamos aos 7 elementos, que quando pegamos qualquer um destes elementos puros, podemos acessar uma grande quantidade de fatores de um trono específico (na verdade temos fatores de todos os tronos em todos elementos, mas uma maior concentração de fatores de um trono específico em cada elemento). Vamos a estas relações:


1) Trono da Justiça se liga ao elemento Ígneo, que tem por função GRADUAR.

 É graduador por excelência porque, em relação à matéria, é ele quem dá o ponto de fusão, liquefação e vaporização de todas as substâncias.




2) Trono da Lei se liga ao Eólico, que tem por função MOVIMENTAR.

É movimentador por excelência porque sem o ar nada se moveria na face da terra e até a energia gerada por nós não se dispensaria no éter. 



3) Trono da Evolução se liga ao Telúrico, que tem por função ESTABILIZAR.

É estabilizador por excelência porque, em nível material, tudo e todos só adquirem estabilidade se estiver fincado na terra ou sobre ela.



4) Trono da Geração se liga ao Aquático, que tem por função GERAR.

 É gerador por excelência porque sem a água tudo resseca e torna-se estéril ou não germina.



5) Trono do Amor se liga ao Mineral, que tem por função CONCEBER.

É conceptivo por excelência porque sem os nutrientes minerais a vida não existiria, pois nada cresceria se não os absorvesse em abundância.



6) Trono do Conhecimento se liga ao Vegetal, que tem por função EXPANDIR.

É expansor por excelência porque em relação à matéria, sem a existência dos vegetais só haveria deserto, já que são eles que transformam os elementos químicos em vitaminas, proteínas, etc., expandindo os meios de a vida fluir.



7) Trono da Fé se liga ao Cristal, que tem por função MODELAR.

É modelador por excelência porque em relação à matéria as sete formas geométricas de crescimento das coisas lhe pertencem e podem ser estruturadas na cristalografia, sendo que cada uma delas está associada a um dos sete elementos aqui citados.


Dentro de cada um desses elementos existem muitos fatores ligados à função por eles realizadas (os Magos de Luz já classificaram mais de 2000 fatores diferentes), vou citar alguns:

ps.: Notem que cada fator é um Verbo, o que nos lembra daquela velha conhecida fórmula de criação mágica: 'No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.', que já estudamos nos textos de introdução à magia.

Ígneo: fator consumidor, energizador, equilibrador, graduador, incandescente, abrasador, liquefativo, fortalecedor, condensador, alternador, emparelhador, etc.

Eólica: fator movimentador, direcionador, ordenador, espalhador, rarefazedor, indicador, retificador, destrancador, desbloqueador, potencializador, agilizador, encadeador, girador, abridor, dispersador, etc.

Telúrica: fator evoluidor, decantador, transmutador, estabilizador, reequilibrador, elevacionista, conscientizador, regenerador, curador, transportador, apassivador, racionalizador, reenergizador, etc.

Aquática: fator gerador, criador, reestabilizador, crescente, formulador, desencadeador, germinador, brotador, ondulador, fertilizador, gestador, devolvedor, ressucitador, revitalizador, vivificador, etc.

Mineral: fator agregador, atrator, repulsor, renovador, diluidor, entrelaçador, enconchador, conceptivo, fecundador, gestador, imantador, fechador, energizador, repositor, vivificador, etc.

Vegetal: fator expansor, concentrador, encaminhador, fixador, energizador, condensador, racionalizador, criativo, semeador, enlaçador, desencadeador, motivador, buscador, ramificador, avançador, etc.

Cristalino: fator modelador, magnetizador, desmagnetizador, triangulador, formulador, norteador, retificador, condutor, virador, entroncador, refazedor, endireitador, cristalizador, cruzador, delineador, elevador, congregador, congraçador, idealizador, etc.

Em textos futuros mostrarei como estes fatores são utilizados dentro de um trabalho simples e rotineiro de um terreiro, pois para isso preciso falar de algumas coisinhas antes.

Para concluir este texto, tivemos então um primeiro contato com o sistema de Magia utilizado pela religião de Umbanda e pelos seus participantes, além de falar sobre a visão da religião sobre a criação do Universo e do Planeta e a relação entre a criação destes com as possibilidades de criação mágica.

Muita luz no caminho de todos,

Vai dar certo!



Referências:
- Curso Teologia de Umbanda Sagrada, Núcleo de Culto Umbandista do Butantã
- Palestra 'Umbanda é Religião Brasileira', Colorado Teus
- Doutrina e Teologia de Umbanda, Rubens Saraceni
- Fundamentos de Umbanda, Rubens Saraceni
- Magia Divina dos elementais, Rubens Saraceni

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