24 de abr. de 2014

O Arremesso


Vontade é ação, não pensamento.
A vontade é movimento,
deslocar-se, fluir.
É pôr de lado o indesejável,
É aproximar o desejável:
está nesse prazer.

Está além das palavras,
mas as controla,
estende-se a elas. 
Assim como se estende aos sentimentos,
às ideias.

Eu escrevo sobre a vontade 
com um sentimento de sacrilégio.
Somente a vontade fala por si
e fala além das palavras, sem palavras.
Toda palavra sobre a vontade é incapaz,
mas qualquer palavra sob a vontade é eficaz.

Somente a vontade pode se ver,
não o medo, ou o desejo, ou inferências,
e se olha não como por um espelho: 
A vontade refletida é muito mais refratação, 
em palavras, vozes, gostos, cheiros e cores.
Mas não é esses reflexos,
está neles.

A vontade vive em todos os tempos e espaços.
O que fala e pensa é o que se perde
no tempo e no espaço:
É o que a esparge,
sendo que está por ela mesma,
É como a pedra que estilhaça a lâmina d’água
e a própria água.

Vontade estilhaçada é o que estamos no momento
mais do que lâmina d'água...
O ideal seria sermos sempre a vontade,
o arremesso. 

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