13 de jul. de 2014

A Umbanda e a estrutura social brasileira (Parte 1)

Por: Colorado Teus

Satisfação,

A pedido de alguns irmãos farei alguns textos sobre a querida e "polêmica" religião de Umbanda. Sobre as "polêmicas" falarei em outro texto. Como este é um texto mais introdutório, irei focalizar nas duas coisas mais importantes de quando se fala de Umbanda: sua essência, que é fazer a Caridade e não deixar ninguém de lado.

A Umbanda é uma religião Brasileira, fundada em 15 de Novembro de 1908 no Rio de Janeiro, pelo irmão Zélio de Morais, incorporando o espírito chamado "Caboclo das Sete Encruzilhadas", que iniciou a religião com as seguintes frases:

- "Umbanda é a manifestação do espírito para a prática da Caridade."
- "Aprender com quem sabe mais e ensinar a quem sabe menos, a ninguém dar as costas."


Com o passar do tempo, estes ensinamentos que parecem simples foram se provando completos e indispensáveis para a formação de uma nova religião neste país, que mostra a cada dia que seu nascimento foi muito importante para nossa sociedade.

Primeiro vamos analisar o nome. Umbanda, de acordo com o livro "O que é Umbanda" vem de U'mbana, da língua Kimbundo, que significa "A Arte de curar". Mas olhando pela raiz brasileira da palavra, Umbanda vem também de "Um + Banda", banda única, sendo que banda significa "local de origem", ou seja, significa que tudo e todos tem o mesmo local de origem, o mesmo criador - primeira dica de que a Umbanda é uma religião MONOTEÍSTA.

Um verso
Universo
Uma banda
Umbanda

Olhando para a primeira frase ("Umbanda é a manifestação do espírito para a prática da Caridade."), sabendo agora dois dos significados da palavra Umbanda, não vemos nada de novo para a sociedade, uma religião que acredita em um criador único que pode manifestar o espírito para fazer a Caridade através da Cura, o que já podia ser encontrado tanto no catolicismo quanto no espiritismo, por exemplo.

Eis então que surge grande diferencial que fez necessário o surgimento desta religião: "Aprender com quem sabe mais e ensinar a quem sabe menos, a ninguém dar as costas."

Nos séculos XIX e XX, havia grandes problemas de discriminação religiosa, direta ou indireta, no Brasil. O Catolicismo não aceitava nos seus rituais pessoas que não acreditassem nesta religião como única verdadeira, além dos homossexuais e pessoas que tivessem infringido algum dos 10 mandamentos e não tivessem pedido perdão. O Espiritismo fazia uso de uma linguagem científica de difícil acesso para a população, pois 65% da população era analfabeta na época, sendo uns 30 dos outros 35% analfabetos funcionais, então, pouquíssimos poderiam ter acesso aos seus ensinamentos. Já os Cultos de Nação nunca foram muito abertos, tendo seus rituais bem restritos aos membros e suas hierarquias, abrindo poucas coisas ao público.

A Umbanda, com o intuito de não dar as costas à ninguém deste país, utilizou-se da base simbólica destas 3 religiões, que juntando seus fiéis somava mais de 85% da população, e também dos conhecimentos indígenas e caboclos das matas e ervas, para dar início a um novo sistema religioso que pudesse ser aberto a TODOS, sem exceção, que quisessem participar. Esta ideia da união entre todos os 'povos' que moravam aqui no Brasil (os Europeus, que trouxeram o catolicismo e o espiritismo, os africanos, que trouxeram os cultos de nação e os índios nativos) foi imortalizada na linda canção da umbandista Clara Nunes, o Canto das Três Raças:


O Marco inicial da religião foi quando Zélio de Morais, que estava em um centro espírita, começou a manifestar o contato com espíritos que se apresentavam como índios e negros, e estes não foram aceitos como pessoas evoluídas e foram expulsos do local. Então estes espíritos, juntamente com o irmão Zélio, marcaram local e data para fundação desta religião, sendo este o evento em que o Caboclo das Sete Encruzilhadas proferiu as frases citadas.

Algo muito importante de se falar neste momento é que atualmente muitos centros espíritas aceitam sim espíritos que se apresentam como negros ou índios, mostrando que o início da Umbanda já ajudou a quebrar alguns preconceitos e a unir mais o povo brasileiro. E, claro, nem preciso citar que é totalmente desnecessário - e por favor vamos acabar com isso - o preconceito de muitos umbandistas que dizem que 'os espíritas não aceitam os umbandistas como evoluídos'...

Bom, sendo as doutrinas Católica e Espírita firmadas no Amor e na Caridade de Jesus Cristo, a Umbanda também incorporou Seus ensinamentos na doutrina umbandista, sendo possível ver a imagem de Jesus no altar de muitos terreiros, além de muitos terreiros utilizarem o Pai Nosso, oração ensinada por Ele, como ajuda na abertura dos trabalhos.

Mas onde entram os Cultos de Nação nessa história toda? Bom, os Cultos de Nação, por mais incrível que possa parecer para nosso preconceito, é uma religião de contato com a natureza muito, mas muito bem organizada racionalmente, que identificou padrões universais (arquetípicos) que eu só fui ver no mesmo nível de profundidade nos estudos de CG Jung ou ordetns muito evoluídas. Estes padrões são identificados como os Orixás, que terão um texto só pra eles, pois integram a parte mais importante na ritualística umbandista.

Como vimos, o nome do espírito fundador da Umbanda é "Caboclo das Sete Encruzilhadas". O objetivo destes textos introdutórios de Umbanda será explicar um pouco sobre este nome e também dos principais elementos que uma pessoa pode ver ao visitar um terreiro, para saber que tudo - até mesmo detalhes mínimos como o andar com os pés descalços dos integrantes do terreiro - tem um fundamento magístico/ritualístico profundo. Então comecemos pelo nome "Caboclo" e o resto será explicado em outros textos.

Como sabemos, cada pessoa tem seus conhecimentos, entendimentos e sabedoria própria sobre o que acontece no universo, o que faz de cada um uma pessoa única neste universo, ou como alguns diriam 'Todo homem e toda mulher é uma Estrela'. Sendo assim, os espíritos umbandistas procuraram uma forma de se organizar simbolicamente para ficar mais fácil para nós encarnados (união de alma+espírito+carne) sabermos quais eram suas especialidades de trabalho. Daí veio a sacada genial de usar os padrões da sociedade brasileira, também chamados de "Arquétipos da Umbanda" (algo parecido com as alegorias de Gil Vicente no Auto da Barca do Inferno). Essa base simbólica ligada à sociedade em que a religião irá acontecer facilita o entendimento dos símbolos e ajuda a cumprir com o fundamento "e a ninguém daremos as costas". Vamos a eles:



Notem o quão profundo pode ser um simples nome, quando vinculado a toda uma sociedade, pois todas as pessoas que pertencem a ela já têm uma noção referente às suas experiências de vida e outras histórias que já ouviram de amigos e parentes.

Esta então é a Umbanda, queridos amigos: uma religião simples e profunda, totalmente arraigada no inconsciente coletivo brasileiro, religião que vem ajudando muito na quebra de muitos preconceitos e, o mais importante, trazendo o Amor a todos que a visitam ou dela participam.

Aliás, o mantra "Vai dar Certo!" foi passado para mim por um Preto-Velho, então mais uma vez, para terminar um texto que dá início à uma série de outros:

Vai dar certo!

Referências:

Teologia de Umbanda Sagrada, Núcleo de Culto Umbandista do Butantã
Os Arquétipos da Umbanda, Rubens Saraceni
Fundamentos de Umbanda, Rubens Saraceni
Wikipedia
Wiki Daemon

2 comentários:

  1. Muito bom, é sempre interessante ir buscar a origem das palavras :)

    Abs!
    raph

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  2. Ótimo post. Algumas coisas sabia, outras se somaram. Obrigado pelo seu trabalho aqui.

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