Por: Colorado Teus
Satisfação,
passamos um tempinho sem postar entrevistas com o pessoal, mas hoje tenho uma bem legal para o pessoal poder dar uma estudada. Quem ainda não viu nenhuma de nossas entrevistas pode entrar aqui neste link para ver algumas: http://coloradoteus.blogspot.com.br/search/label/Entrevistas.
Hoje a entrevistada é Beatrix Oliveira, ela é Artista Visual formada pela Unesp e Tatuadora. Ela faz tattoos com um estilo que nunca vi nada parecido, totalmente original, e o melhor, ficam maravilhosas, sou fã declarado. Sem mais delongas, vamos à entrevista e ao Mapa Astral. Todas os desenhos desta entrevista (tirando a escultura que é uma foto) foram feitos por ela.
1. Se você fosse um animal, qual seria?
2. Se você fosse uma cor, qual seria?
Um azul profundo da minha paleta de aquarela.
3. Se você fosse uma música, qual seria?
4. Se você fosse uma obra de arte (pintura ou escultura), qual seria?
Perguntas envolta da Verdadeira Vontade:
1. O que você ama?
Acho que posso dizer que eu amo a arte. Mas essa palavra não diz muito para nós logo de cara. Pensamos em arte imediatamente como uma pintura, como um retângulo na parede e não é bem isso o que tenho em mente. Arte não é o produto exposto no museu - isso é só uma memória do gesto do artista. Arte é a série de decisões e métodos que levaram até aquele resultado. Se eu digo "artifício" vocês percebem melhor o que quero dizer. O valor de uma obra não está no objeto, mas no que foi necessário para a sua execução e os aprendizados durante o processo. Amo a transformação pessoal e coletiva que envolve o fazer artístico.
2. O que você acha que faz bem (habilidades)?
Eu tenho um certo talento para desenhar, pintar e perceber estruturas, que vai sendo lapidado com prática, muitos anos manejando lápis e pincel e observando o que está ao meu redor. Também acho que cozinho bem e tenho uma mão para jardinagem. O ritmo das plantas é algo que me intriga bastante. Mas são atividades paralelas que faço para desanuviar a mente quando começo a dar umas patinadas no desenho, ou como ritos matinais e noturnos. É sempre bom estar em contato com a terra, com o alimento, com essa parte essencial da vida.
3. O que já te pagaram ou você acha que pagariam para fazer?
Incrivelmente eu só comecei a ter uma procura e um interesse profissional mais sólido depois que decidi me tornar tatuadora. De vez em quando me pego pensando nisso - poxa, sempre desenhei, sempre pintei, mas nunca antes na minha vida tive tantas encomendas, como ilustradora e em outros projetos artísticos também, até descobrir a tatuagem. Ou a tatuagem me descobrir, não sei bem.
Também já recebi bastantes encomendas para costurar cadernos personalizados. Mas quando me ensinaram a encadernar, foi sob a condição de que eu nunca lucrasse com aquilo ou transformasse em algo "capitalista". Eu sigo esse combinado.
4. O que você acha que o mundo precisa?
Contato, compaixão, dedicação, compromisso, significado, percepção, consciência, reflexão - alguém que cuide, alguém que instrua, alguém que construa - muitas, muitas coisas. É uma ideia meio brega e até clichê mas acho que precisamos estar próximos uns dos outros e aprender a ouvir o que nossos semelhantes têm a dizer sem julgar, ainda que seja doloroso. Precisamos construir pontes ao invés de muros.
Mas acho que o mundo podia rir de si mesmo com um pouco mais de frequência! Estou dizendo isso também porque eu mesma preciso me relembrar dessa arte patética de vez em quando. Já fui melhor nisso, numa época com menos responsas, e muita gente poderia se beneficiar de se fazer de ridículo sem medo. Muitos problemas podem ser resolvidos com uma gargalhada.
5. Qual o momento que sentiu o maior êxtase em sua vida que pode falar?
Muito do meu êxtase, atualmente, é associado ao sofrimento, à batalha comigo mesma, a enxergar um pouco de luz no meio do que às vezes parece ser escuridão. Aceitar a dor, senti-la como parte da transformação interior e superá-la. Isso é muito ligado à tatuagem, também. E a ultrapassar antigos limites.
A vida persiste, apesar de! O que mais me marcou que consigo lembrar neste momento foram algumas experiências sobre amor e compaixão depois de um processo árduo e marcante. Enxergar-se no outro e poder tocar sua alma positivamente é algo muito profundo. Não há nada superior a isso; nenhum prazer físico, nenhuma droga potente, nenhuma promessa de poder, nada. A força que nos une apesar de tudo é a maior deste Universo.
Tenho certeza de que ainda vou descobrir outros tipos de êxtase na minha vida, mas, nesta fase, a luta pelo aprimoramento pessoal e dos que estão ao meu redor tem tido um destaque muito importante.
Perguntas especiais com ajuda do Tarot:
1ª Carta tirada: A Torre
Pergunta: como você harmoniza razão & emoção em sua Arte? Qual foi a influência da Faculdade em seu processo de criação?
Uso essa parte mais sensível para perceber meu cliente e me conectar com ele, é importantíssimo fazer isso na tatuagem. Porque é um processo colaborativo para confeccionar uma nova peça de "roupa" para alguém, que vai durar até... o dia de sua morte. E essa mesma sensibilidade trabalha sugerindo alguns temas a serem inseridos no desenho. Mas, antes que possa me dar conta, já é a razão que tá falando para saber onde, quanto, o quê e como aplicar o que sinto. Que método seguir, que lápis usar, como lidar com a pessoa, essas coisas.
A faculdade cortou um pouco da minha inocência sobre a Arte ser um processo puramente emocional, incompreensível, misterioso, inspiração do além e todo esse papo, toda uma ideia romântica que eu cultivava. Não, não. Há muita técnica envolvida, muita reflexão e filosofia sobre as possibilidades artísticas. A Faculdade me apresentou pessoas, grandes amigos e artistas, que foram e são grande e valiosa influência pra quem eu sou e para o que eu faço; quebrou o mito do "gênio solitário" e me abriu a vida para a troca em comunidade; me apresentou belas teorias e discussões intermináveis, que quase nunca se encaixam com a realidade do dia-a-dia; me fez perguntas que me geraram mais perguntas, e, no fim, me ensinou que algumas estruturas, alguns métodos, têm sua razão de ser e que podemos aperfeiçoar nossa Arte e quem somos sob quaisquer modelos ou exigências que nos sejam oferecidos. Quero dizer: por mais que a tese de conclusão seja uma chatice sem fim, com regras e limites, no fim você vê que aquela merda toda faz sentido e você que se recusava a aprender por puro conforto.
2ª Carta tirada: A Roda da Fortuna
Pergunta: em que momento, ou quais, você viu o meio artístico como uma oportunidade de carreira profissional? Quais foram os indícios?
Eu tinha certeza de que seria bióloga ou no mínimo estaria envolvida com ciência. Desde criança falava que queria ser cientista... E artista. Nunca pensei em grana, comércio, nada disso, apesar de atualmente a independência financeira ser uma preocupação bem real. Eu queria era descobrir o mundo, este lugar tão estranho e fascinante. E depois de muitos anos indo até que bem na escola, eu voltei a desenhar intensamente porque queria alcançar algo além do que estava sendo me oferecido naquelas carteiras, naquela lousa cheia de pó de giz. E foi aí que toquei um foda-se pros números e decidi continuar fazendo o que sempre fiz - desenhando, pintando, descobrindo maneiras novas de se fazer as coisas. Me comunicando através de imagens. Pensei em ser ilustradora de livros infantis (o que nunca aconteceu). Me inscrevi para o vestibular de Artes Visuais, passei, e embarquei num navio que tem me levado para diferentes continentes com os habitantes mais peculiares. A viagem nem sempre é fácil mas é muito gratificante.
Espaço para divulgação:
Página no Facebook: /beatrixoliveiratattoo
Conta no Instagram: @beatrixolive
Site: beatrixtattoo.com
E-mail: beatrixtattoo@gmail.com
Mapa Astral de Beatrix Oliveira:
Colorado Teus: Gostaria de agradecer à Beatrix pela entrevista, fico muito feliz em ver pessoas correndo atrás de seus sonhos mesmo quando é necessário bater de frente contra todo um sistema, admiro a capacidade de luta e coragem desses artistas do nosso país.
Vai dar certo!
Vai dar certo!
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