5 de out. de 2016

A diversidade cultural na Umbanda

Por: Colorado Teus

O Brasil é um pais de dimensões continentais que se formou através da união de três raças principais: indígena, branco europeia e negros. Cada uma dessas raças era formada por povos de costumes muito diferentes, gerando uma grande diversidade étnica e moral. Além dessas, houve imigrantes de outras regiões que se mudaram para cá.


Uma vez que a cultura brasileira é formada por um amálgama de diversas outras, é preciso ter cuidado para que a diversidade não seja vista como falta coesão, pois isso atrapalharia a formação da identidade nacional e abriria brechas para que outros países impusessem seus valores sobre o povo brasileiro. 

Existe a tentativa de alguns grupos em misturar as diferentes culturas em uma única, para dizer que o brasileiro é uma mistura de todas. Porém, a cultura brasileira se dá na convivência e no respeito ao diferente, e não necessariamente numa mistura, uma vez que há crenças muitas vezes diametralmente opostas entre muitas delas. 

Porém, é necessário entender que a diversidade em si é a identidade da cultura. Há problemas se a população não se identificar com sua própria cultura: corre-se o risco da falta de valorização dos produtos, da religião e da arte do seu próprio país, de modo a abrir brechas para que empresas e grupos de outros países entrem no Brasil e se imponham, dominando o comércio e forçando seus valores goela abaixo da população.



A Umbanda, como religião, teve como seu fundamento inicial a abertura da possibilidade da população brasileira de exercer sua religiosidade e de conservação/valorização da cultura popular. Notem que as três grandes religiões do início do século XX eram inacessíveis para a maioria da população:

- As missas católicas eram rezadas em latim, com o padre de costas para o povo. Poucos entendiam qualquer coisa, a grande maioria só repetia os rituais como papagaios, sem entender nada do que estava acontecendo.

- As reuniões espíritas pré Chico Xavier eram feitas com o intuito do estudo e da ciência, fora que a maioria dos livros de Kardec e das revistas espíritas estavam apenas em francês. 99% da população não sabia ler nem em português naquela época, imagina se leriam em francês.

- Os cultos afro-descendentes sempre tiverem um caráter muito fechado (acredito que era assim por questões de auto-preservação); para se participar de um ritual candoblecista era necessário ser iniciado ou ser escolhido.

Nesse contexto, a Umbanda surgiu como uma religião mediúnica, para que as pessoas pudessem estabelecer contato com seus ancestrais e para que aprendessem mais sobre quem vive(u) aqui. Assim, fazemos contato com espíritos de índios, de negros, de europeus, de orientais, de ciganos, de marinheiros, de crianças, de boiadeiros, de baianos, de exus, de pombas-giras e por aí vai.

A grande questão é entender que a Umbanda não é uma mistura de tudo isso, mas ao mesmo valoriza toda essa diversidade.



Entendam que uma mistura seria pegar todos os conhecimentos de todos esses povos, bater tudo em um liquidificador e tomar. Não haveria qualquer tipo de coerência, pois alguns desses povos pensam de forma totalmente oposta entre eles em alguns aspectos. Já presenciei pessoas que se consultaram com uma entidade e receberam um conselho; depois, se consultaram com outra, de outra linha, incorporada no mesmo médium, e receberam conselhos completamente diferentes, opostos ao anterior.

A Umbanda não apoia nem uma e nem a outra entidade especificamente, ela apoia existir um ambiente em que elas podem falar, dar sua opinião, ensinar, divulgar sua cultura. Na Umbanda não tratamos as entidades como deuses oniscientes, mas como sábios, como pessoas que têm muito a acrescentar. Costumo pedir para que as pessoas não acreditem cegamente no que ouvem em uma gira, mas que tentem entender o que foi falado, para poderem digerir aquele conhecimento e aplicarem em suas próprias vidas. Nenhuma entidade fala verdades absolutas, mas todas chamam a atenção para o que é muito importante na questão.

"Umbanda tem fundamento, é preciso preparar!"

Porém, toda essa diversidade não implica em um caos total, em que cada um faz o que vier à cabeça. Na Umbanda também existe uma Tradição, referente a como se organizar e preparar o ambiente para que se possa manifestar a mediunidade em segurança. Dentro dessa Tradição existem rituais e iniciações pelos quais os sacerdotes e os médiuns devem passar para que possam agir favoravelmente à conexão com os ancestrais. É importante entender que há hierarquias bem definidas na Umbanda, tanto no físico quanto no espiritual, que organizam quando e como os rituais acontecem. Com tanta divergência de pensamentos, nenhum terreiro conseguiria chegar a lugar algum se não houvesse aqueles que organizam e direcionam o barco.




A dualidade e a divergência de pensamento pode ser vista por muitos como falta de coerência, mas a dialética, por exemplo, nos mostra que é através do domínio sobre a dualidade que conseguimos construir nossas crenças e viver nesse mundo de opostos. A oposição de ideias muitas vezes significa que nenhuma delas é a certa e a outra errada, mas sim que existem momentos em que uma é melhor que a outra e vice-versa. Colocamos como o amadurecimento de uma pessoa na cultura brasileira como aquela que conhece muito bem as diversas dualidades e tem capacidade de entender quando utilizar cada uma delas. Dessa forma, conseguimos valorizar tanto a rigidez do Exu, quanto a misericórdia do Caboclo, quanto a paciência do Preto-Velho, quanto a espontaneidade da Criança, quanto a vitalidade do Baiano, quanto a seriedade do Boiadeiro, quanto o desapego dos Ciganos, quanto a força de vontade da Pomba-Gira, quanto o empenho do Marinheiro etc.

A Umbanda não é uma mistura de tudo isso, mas cria um ambiente em que todos podem ser ouvidos e valorizados, mostrando ao povo o valor de sua cultura.

"Com os mais evoluídos aprenderemos, aos menos evoluídos ensinaremos, e a ninguém renegaremos."

Vai dar certo!

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