2 de mar. de 2016

Como fazer um tratamento espiritual (Parte 2)

por: Colorado Teus

Não basta querermos fazer o bem, se realmente quisermos o fazer, precisamos nos preparar da melhor forma possível para que nossa ação seja coerente com a intenção. São incontáveis os casos de pessoas que tinham o intuito de fazer o bem e acabaram mais atrapalhando do que ajudando, o que sustenta o ditado “De bem intencionado o inferno está cheio”.

Muitas pessoas agem compulsivamente quando o assunto é ‘ajudar’, a vontade de nos sentirmos úteis em um mundo tão vazio, muitas vezes nos coloca em impulsos impensados e insensatos. Esse é o caso de muitas pessoas que entram no caminho da espiritualidade e começam a desenvolver algumas capacidades, acham que podem colocar suas mãos onde bem entenderem.



Lembro-me da primeira vez que consegui manipular conscientemente a energia que muitos chamam de ‘luz astral’, aprendi a direcioná-la para onde quisesse; a primeira sensação que tive era a de que tinha me tornado um super-homem e que poderia salvar o mundo. Como uma criança ingênua, já conseguia imaginar todos os aplausos e agradecimentos que receberia por todas as proezas e ‘milagres’ que conseguiria com tal capacidade.

A primeira pessoa de que me lembrei foi meu já falecido tio, que na época passava por graves problemas de saúde. Sentei-me sozinho num quarto especial de minha antiga casa, fiz um relaxamento, acendi uma vela branca e peguei uma foto desse tio. Fiz toda a conexão via visualização e comecei a enviar a ele tal energia.

Em poucos segundos senti arrepios e tremulações por todo meu corpo, senti um grande vazio em meu campo áurico e comecei a me sentir muito mal. Estava sob um ataque astral! Já tinha ouvido falar algumas vezes sobre esse tipo de problema espiritual, mas não tinha a menor ideia de como lidar com tal situação, não sabia o que fazer.

“Os obsessores do meu tio devem ter ficado putos comigo por eu tentar livrá-lo das garras deles” foi a primeira coisa em que pensei, mas, por não estar preparado para uma situação como aquela, comecei a ter medo. O medo aumentou em muito quando cheguei ao banheiro e vi em meu pescoço um ‘hematoma’ do tamanho de uma maçã, tinham bloqueado meu chakra laríngeo para que eu não conseguisse clamar por ajuda espiritual!

Isso foi desesperador, o que aumentou meu mau sentimento e piorou minha situação. Naquela época eu estava começando a frequentar terreiros de Umbanda e resolvi ir a uma gira pedir por ajuda, já que não conseguia fazer minhas invocações e banimentos.

Conversando com um preto velho, expliquei toda a situação e pedi para que ele desfizesse tal magia negra que estava me afetando. Ele olhou, analisou meu corpo espiritual e disse que achou estranho, pois não havia qualquer tipo de magia negra direcionada para mim; porém, após terminar de fazer a análise, disse que tinha uma marca peculiar em meu corpo espiritual, sobre uma grande chaga havia o sigilo (assinatura) de um Guardião espiritual, que foi prontamente invocado.

Tal guardião, através do preto velho, me transmitiu a mensagem de que eu tinha recebido uma punição por prática de magia negra. Como eu teria praticado magia negra se eu não tinha utilizado de velas pretas, sacrifícios ou invocações demoníacas? Ele explicou de forma sucinta que o ‘passe’ que eu fiz para meu tio estava por fazer um grande mal para a evolução dele, portanto ele teve que intervir.

Foi naquele momento em que comecei a entender a famosa ‘lei do livre arbítrio’, a qual foi ferida pela minha tentativa de ajudar. Essa lei assegura, juntamente ao Karma, a evolução do espírito encarnado na Terra; o livre arbítrio não é uma tentativa de Deus em transformar o mundo num caos, onde cada um faz o que quiser, ela permite ao ser humano testar aquilo que pensa em seu íntimo.

Há muitas definições de karma, algumas que até se contradizem; na tentativa de explicar o que é essa lei para profanos, algumas pessoas acabaram infantilizando sua explicação e a transformaram num sistema financeiro, em que ‘se trabalha para pagar as contas’, na tentativa de colocar essas pessoas em ação. Em sânscrito essa palavra significa literalmente ação, mas dentro de um contexto de ação e consequências dessa ação.

Para entendermos a relação entre Karma e Livre-arbítrio precisamos de um pouco de Budismo; tal filosofia nos diz que quase todas as pessoas que vivem nesse mundo estão presas em Maya, uma grande ilusão coletiva gerada pelos desejos de cada um. Essa ilusão surge de uma mente muito criativa, que viaja pelo passado, presente e futuro, sem conseguir se concentrar naquilo que íntimamente quer, ou Quer Querer.

Assim, a mente da pessoa formula milhares de teorias, ideias e especulações, pelas quais se apaixona e se apega. É aqui que mora nossa ignorância, quando achamos que sabemos tudo de tudo por termos a capacidade de formular ideias e opiniões acerca de qualquer assunto. Nesse estado a ignorância reina e a pessoa começa a repudiar tudo que vai contra suas preciosas ideias; chega ao ponto da pessoa começar a atribuir seus problemas a coisas exteriores, pois jamais poderiam ser resultados de suas ideias.

Mas a roda gira, o Karma faz com que as pessoas saiam de suas zonas de conforto para colocarem em prática aquilo que pensam. Quando existe o livre-arbítrio, a pessoa fará exatamente aquilo que acha ser o melhor para a situação a que foi ‘jogada’, assim, testa suas ideias e pode ver os verdadeiros resultados delas. Quando entende esses resultados, ela pode modificar internamente o que acredita e, pouco a pouco, transmutar o chumbo em ouro, transformar a pedra bruta numa belíssima escultura.

Se uma pessoa não conseguir se modificar internamente, significa que ela terá os mesmos problemas onde quer que esteja, não por algum fator místico, mas por sua ignorância; chamamos isso de ‘nó kármico’. Alguns nós só são desfeitos ao sermos vítima de alguma ignorância alheia que seja igual a nossa, pois só assim para entendermos que algumas coisas são de fato ruins; é daí que surge a ideia de que ‘recebemos uma reação oposta e sofreremos o sofrimento que causamos’, mas isso pode ser evitado se conseguirmos aprender e nos mudar antes. Não se ‘paga’ um karma sofrendo, Deus não é vingativo, se ‘paga’ um karma aprendendo e melhorando.

Notem como o livre-arbítrio é essencial para que cada um consiga derrubar suas torres, digo, suas ilusões. Se a decisão de um ato não surgir de si mesma, a pessoa não é capaz de identificar em si o problema, e sempre atribuirá seus problemas a um diabo, a um bode expiatório. Igualmente, a ‘ação’ é essencial para tal evolução; quando fazemos um tratamento espiritual, transmitimos ao outro uma energia que coloca as coisas em movimento, em ação, que anima, alma. Essa energia é o que permitirá à pessoa a tomar atitudes/agir e colocar à prova suas ideias.

Há três tipos básicos de energia que a alma absorve e que podemos manipular, apesar de haver outros mais sutis, em níveis muito íntimos da alma. O primeiro é o Guph, que em hebraico significa exotericamente ‘cadáver’; é uma energia que muitos chamam de vitalidade, que dá força ao corpo físico para trabalhar no plano material. Essa energia é muito presente no sangue animal e na seiva de plantas; quando um animal ou uma planta morrem, essa energia começa a ser dispersada no ambiente à sua volta. Assim, é comum o sacrifício de animais e plantas em muitas religiões, para que esse guph seja direcionado a outros seres, com diversos objetivos. Uma alimentação crudívora, principalmente se o alimento foi colhido há pouco tempo, garante altas quantidades de Guph. A carne, principalmente o fígado (casa da alma), também contém grandes quantidades da energia citada, mas que pode se perder com o tempo. Algumas pessoas chamam essa energia de ‘telúrica’, justamente por dar forças para o ser humano agir no plano físico (muitos dizem que podemos absorver essa energia ao andar descalço na terra). Nos cemitérios essa energia pode ser encontrada em enormes quantidades por motivos óbvios, por isso muitas religiões fazem trabalhos espirituais em tais lugares, que são tratados como sagrados. Sem essa energia a pessoa se torna apática e não é capaz de realizar-se no mundo físico, não consegue trabalhar ou seguir uma rotina mais difícil (que é o que acontece com vegetarianos que não aprendem a importância do vegetal cru e fresco, pois normalmente é a carne a maior fonte dessa energia quando falamos dos alimentos comuns, que começa a fazer falta ao ser cortada sem ser bem substituída).

O segundo é o Nephesch, a mesma energia que mais cedo chamei de luz astral, que os Umbandistas chamam de Axé, que os hindus chamam de Mana. Essa energia é o que dá força ao ser humano para usar sua mente, seu intelecto, sua imaginação e sua intuição. Essa energia está presente nos elementos água e ar, de onde surgem todas as tradições que se utilizam de diversos tipos de incensos, bebidas, óleos, banhos, batismos, canções, discursos etc. Através da visualização e criatividade o ser humano é capaz de guiar e manipular essa energia, que dá força aos seres para pensar, raciocinar e criar. Essa energia é o que forma o duplo etérico e o corpo astral, é ela que é capaz de interagir com espíritos e criar formas-pensamento. Sem essa energia a pessoa não é capaz de ler um livro e entendê-lo, ou de conversar sobre assuntos abstratos. Os enteógenos são compostos em que essa energia fica absurdamente bem concentrada.

O terceiro é o Ruach, a energia de inspiração e coragem, que traz ao ser humano a capacidade de agir da forma mais gloriosa e divina, a centelha divina que habita o coração de cada pessoa, mas que normalmente está quase totalmente adormecida na maioria delas. Essa energia é mais sutil do que nephesch, mais difícil de ser manipulada porque não se sintoniza com o corpo ou com a mente, mas sim com o coração. Sentimos essa energia quando fazemos algo que esteja totalmente alinhado com aquilo que acreditamos que seja o correto, que julgamos belo e louvável. Para manipularmos essa energia precisamos de muito esforço pessoal e auto-sacrifício para nos transformarmos naquilo que mais gostaríamos de ser, pois assim viramos a face daquilo que acreditamos e nos tornamos uma fonte de inspiração para quem quer que nos veja. É aquela velha história de que o melhor ensino é dado pelo exemplo e não pela palavra; quando as pessoas veem no outro a beleza de uma ideia e os resultados que ela gera, não há contra-argumento que possa confrontá-la. 

Notem como isso é representado de maneira genial em muitos jogos de rpg, em que a personagem tem uma barra de vitalidade vermelha (Guph), uma barra de energia mental azul (Nephesch) e uma barra de coragem amarela (Ruach), que são necessárias para sobreviver, conjurar magias e agir de maneira corajosa (ações críticas) respectivamente. Para recuperar as duas primeiras energias basta comer e descansar/meditar, já a terceira vem de alguma fonte de inspiração, é o que recebemos ao presenciarmos uma bela obra de arte ou ao ficarmos próximos de alguém que admiramos.

Quando eu direcionei a luz astral ao meu tio, por melhor que fosse minha intenção ou essa energia, isso iria prejudicá-lo, pois colher as consequências de suas ações fazia parte do seu aprendizado. No fim eu acabei ajudando a mim mesmo, pois quebrei muitas ilusões que tinha sobre a ‘cura’ espiritual e aprendi muito sobre o que de fato é uma magia. Obviamente eu não aconselho ninguém a fazer o mesmo, é justamente por isso que estou escrevendo esse texto, para que vocês não precisem passar pelo mesmo sofrimento que passei para aprender que não se deve fazer magia sem pedir a permissão para a pessoa e sem consultar um oráculo para saber se os guardiões dela concordam com tal tratamento.

Na verdade, inicialmente eu aconselho que usem as técnicas somente para si mesmos, só comecem a compartilhar suas habilidades com os outros depois de obterem bons resultados com as técnicas para si mesmos. Mas, principalmente, entendam que a alma fortalecida e revigorada não garante a evolução; se querem realmente ajudar alguém, comecem por mostrar diferentes perspectivas com relação aos seus problemas, ajude-a a olhar para dentro de si e encontrar onde estão suas limitações e ilusões. Depois, encorage-a a se autoconhecer e ir atrás daquilo que realmente ama/acredita, pois só assim alcançará altos níveis de ruach e terá condições de realizar sua Verdadeira Vontade e se livrar de seus karmas/limitações. Um dos magos que mais admiro, conhecido como Lon Milo DuQuette ou Rabbi Lamed Ben Clifford diz que se tem um conselho a dar para pessoas que estão iniciando em magia, seria: “Estude e pratique magia, mas por favor, tenha uma vida”, pois é na vida que a pessoa realizará e se desenvolverá, pois magia, como diria seu amigo Michael Kraig, não é algo que se faz, é algo que se é.

Para concluir, reafirmo que o verdadeiro tratamento espiritual reside na melhoria dos hábitos e comportamentos da pessoa, as técnicas/orações/passes só servem para ajudar o auxiliado a entrar em um estado em que terá mais condições de perceber como se tornar uma pessoa melhor e buscar por isso.

Vai dar certo!

Um comentário: