10 de mar. de 2016

Como fazer um tratamento espiritual (Parte 3)

Por: Colorado Teus

Satisfação,

nas partes 1 e 2 dessa série, eu falei sobre a importância de se identificar o motivo, o objetivo do tratamento espiritual. Isso é muito importante devido ao fato de muitas pessoas trocarem o fim pelo meio, achando que o importante num trabalho espiritual é a técnica e não a cura em si.

No processo de um tratamento espiritual, podemos identificar as seguintes fases (de modo bem generalista):
  1. Pessoa com problemas
  2. Tratamento
  3. Pessoa curada
Vou levantar, então, uma questão polêmica e peço que você reflita antes de seguir com o texto:


"Uma pessoa está com muita energia de agressividade, ela precisa de um tratamento espiritual?"




Sim? Não? Sim e Não? Talvez?

A grande pergunta que precisamos nos fazer é: QUAL A REFERÊNCIA? Um Yogue diria que sim, um Viking diria que não, um monge Budista diria que depende. Todo julgamento precisa de uma referência, seja externa (um livro, um conjunto de crenças, uma lei etc.) ou interna (experiências, crenças pessoais etc.).

Estou cansado de ouvir a frase 'não julgueis para que não sejais julgado' vinda da boca de pessoas que passam o tempo todo julgando, falando que certo tipo de comportamento é errado, que traz 'karma', que tal pessoa será julgada e cobrada quando morrer.

A grande questão é que julgar é uma qualidade inerente a qualquer ser humano, toda decisão parte de um julgamento, que pode ser pessoal (quando a pessoa chega a uma ideia através de sua experiência e sabedoria) ou impessoal (quando a pessoa se faz de instrumento para um sistema de crenças ou para algum mestre). O problema não é julgar, o problema é o preconceito, julgar instintivamente pela superfície, sem uma profunda reflexão. É através dos julgamentos que podemos evoluir e aprender a tomar decisões cada vez melhores.

Os sistemas de referência começaram a existir quando alguns seres humanos perceberam que não dá para simplesmente esperar por que todas as pessoas desenvolvam a sabedoria do zero numa sociedade. Se cada um fizesse simplesmente tudo que o Ego comanda a fazer, viveríamos em um caos total, num mar de ofensas e agressões intermináveis. Quando se tem um sistema de referências, as pessoas meio que 'combinam' que todos de um grupo devem segui-lo, assim, quem não cumprir com o combinado, pode ser punido/penalizado.

A ideia do 'combinado' é talvez uma das noções mais rudimentares de Justiça, ao mesmo tempo que é seu fundamento básico. Essa noção de combinar é intimamente ligada à de 'não faça aos outros aquilo que não gostaria que fizessem com você'; as referências (leis) são formas de dizer às pessoas o que algumas ou muitas pessoas não gostariam que acontecesse. Dessa forma, montam-se os códigos legislativos dos diversos grupos, e em cada lugar tem-se uma noção diferente do que seja justo ou injusto, certo ou errado, problema ou solução.

É justo bater em uma pessoa por ela ser mulher independente? A moral cristã por muito tempo disse que sim, aqui no Brasil não se via muitos problemas nisso e era algo que acontecia frequentemente, sem qualquer tipo de punição. Hoje já é um pouco diferente, existem leis que supostamente as protegem e algumas pessoas já foram punidas por fazerem isso.

As crenças no que seja o justo ou injusto, equilibrado ou desequilibrado, são totalmente ligadas ao momento em que as pessoas vivem (por isso a ligação entre 'justiça', 'moral e 'moda'). John Lennon batia em suas esposas, Platão apoiava a escravidão, Allan Kardec discriminava negros; deveríamos descartar as obras dessas grandes mentes porque algo que eles faziam seria considerado injusto hoje? Tudo é uma questão de referência.

Quando começamos a falar de diversas referências que se contradizem, voltamos ao caos primordial, à torre de babel que está à beira de cair novamente, é uma confusão só.

Mas qual o motivo pelo qual eu expus tudo isso? É entender o porquê de duas coisinhas básicas que todo médium/mago que se envereda na área da cura deveria saber:
  • As leis são 'combinados' que visam esclarecer, aos participantes de um grupo, formas de manter a harmônia e não atrapalhar o bom convívio;
  • Não se deve misturar egrégoras (confundir referências).
Quando uma pessoa é iniciada em uma egrégora, é apresentado a ela um novo sistema de leis, que vale para aquele grupo. Nessa lei contém aquilo que ela precisa desenvolver nela mesma (deuses, divindades) e aquilo que ela precisa evitar (demônios), de acordo com a egrégora.

Note que em quase toda egrégora existe um modelo perfeito, um ser ideal cujas qualidades devemos desenvolver em nós; é o caso dos Orixás na Umbanda, de Jesus no Catolicismo, de Buda no Budismo, de Krishna ou outros deuses no Hinduísmo etc. Ao mesmo tempo, existem muitas falas e conselhos que mostram as consequências ruins de se fazer algumas coisas, que levarão ao karma, pecado, sofrimento etc.

Quando vamos julgar se uma pessoa precisa de um tratamento espiritual, precisamos nos firmar em uma egrégora na qual fomos iniciados. Vamos supor o caso da pessoa com muita energia de agressividade.

  1. Na Umbanda, Ogum, senhor dos guerreiros, nos diz que essa energia pode ser bem utilizada se direcionada à proteção dos necessitados.
  2. No Catolicismo, Jesus diz que não se deve utilizá-la, então a pessoa deveria suprimi-la.
  3. Na cultura Viking, Thor iria colocar a mão em seu ombro e a chamaria para a batalha.
  4. Buda diria que isso é apenas uma ilusão, que essa energia aparece quando a pessoa não está focalizada no momento presente.
  5. No espiritismo brasileiro (FEB) ela receberia um grande sermão e começaria a se sentir culpada.
  6. Na Alquimia ela ouviria que essa energia pode se tornar tanto diligência quanto ira, depende da capacidade da pessoa em direcioná-la.
  7. Em Thelema diriam a ela para fazer o que ela Quer, pois é o todo da Lei.
Quanta confusão, quanta contradição, qual referência seguir? 

Quando estiver dentro de um sistema específico, trabalhe com aquele sistema, siga a lei do seu templo, do seu povo. Quando estiver no Brasil, siga a legislação brasileira, não a árabe ou a norte-americana. Quando estiver trabalhando com a Umbanda, siga a lei da Umbanda. Quando estiver trabalhando com a Umbanda Sagrada, siga a lei da Umbanda Sagrada. Quando estiver trabalhando com o Catolicismo, siga a lei do Catolicismo. Resumindo, não misture as referências sem conhecê-las profundamente e sem ser capaz de perceber onde elas se complementam ou se contradizem.

Ou seja, se no terreiro te ensinaram que é para fazer 'x' e no templo budista que é para fazer 'y', quando estiver trabalhando no terreiro faça 'x' e quando estiver no templo faça 'y'. Na sua vida pessoal você pode experimentar a mistura 'xy' e ver o que acontece, às vezes dá certo, às vezes não, só testando para saber. Nossa sabedoria só se desenvolve experimentando, errando e aprendendo com o erro, acertando e aprendendo com o acerto... mas o que é combinado é combinado e ponto final, a não ser que se descombine (senão é enganação).

E para saber se a pessoa foi curada? Compare o resultado com o que o sistema diz que é uma pessoa curada; se você usou uma técnica da Umbanda, lembre-se do que os umbandistas dizem que é uma pessoa curada e veja se a pessoa chegou a esse estado; se você usou uma técnica do Taoísmo, lembre-se do que os taoístas dizem que é uma pessoa curada e veja se a pessoa chegou a esse estado.

Se deu certo, é provável que algum dia o tratamento perca o efeito e aí preciso falar sobre a 'disciplina'; a grande maioria das pessoas não tem suas capacidades mediúnicas desenvolvidas e nem sabe utilizar algum oráculo. Assim, as pessoas não ficam sabendo quando o tratamento deixa de ter efeito, vão perceber apenas quando o problema cresceu o suficiente para manifestar novamente no plano físico, ou seja, quando já 'deu merda' novamente. Então, se você não quiser que isso chegue a esse ponto, ensine-as o que fazer, em períodos de tempo, para renovar a força dos tratamentos, como : ir à cachoeira uma vez ao mês, ir à missa de vez em quando, entoar algum mantra tal hora do dia etc.


Quando comecei a escrever essa série de textos, alguns esperavam que eu fosse fazer uma lista de técnicas e mandingas para tratamentos espirituais. Para quem chegou até aqui e leu carinhosamente as três partes do texto, posso falar com tranquilidade que irão me entender: não existe erro maior do que simplesmente profanar as técnicas e rituais das egrégoras, porque somente entrando nelas e conhecendo profundamente seus fundamentos é que a pessoa se torna apta a utilizá-las.

Tendo isso em vista, ao se deparar com uma situação em que acha que é necessário fazer um tratamento espiritual, proponho que faça a seguinte reflexão:

  • Qual egrégora invocarei para me dar a referência nessa situação?
  • Para essa egrégora, isso é de fato um problema?
  • Qual a origem do problema da pessoa? Existe alguma causa mais profunda?
  • Eu tenho a permissão de fazer o tratamento?
  • Se eu tirar o problema, o que colocarei no lugar?
  • Como posso ajudar a pessoa a se conscientizar da causa desse problema?
  • Quais técnicas dessa egrégora eu posso utilizar?
  • Ela está se tornando uma pessoa melhor de acordo com os modelos da egrégora?
  • O que ela pode fazer para que o tratamento não perca a força?
Se essas reflexões funcionarem para vocês como funcionaram para mim, o que tenho para dizer é que:

Já deu certo!

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